Adeus, tristeza

Ele está ali parado, observando do alto sua angústia, suas mágoas. Lembrando-se dos bons tempos de menino, que foram rapidamente substituídos pelas frustrações da maturidade. A cada má lembrança seu coração se contorce de dor.

Lembrou-se da árdua batalha para ter seu diploma, e da decepção de não conseguir um emprego que valesse à pena seus esforços. Recordou-se saudosamente dos filhos que não viu crescer, pois sua ex-mulher o havia proibido, e que agora são praticamente estranhos a ele.

Uma brisa fresca toca seu rosto, trazendo consigo lembranças de seu velho pai, cujo tratamento ele não teve condições de pagar. Sua garganta deu um nó quando lembrou que não estava presente nos últimos momentos de sua amada mãe. Chorou. Secando as lágrimas lembrou de um tempo em que tinha ombros amigos para se aconchegar, mas esses ombros foram se afastando, se perdendo... Uns levados pela morte, outros afastados pela traição.

Vendo o pôr-do-sol, lamentou as tardes que passou preso num escritório sufocado por uma gravata cinza. Lembrou-se das praias que não conheceu, dos shows que não foi, dos livros que se acabaram na estante sem ao menos serem tocados, das festas que não freqüentou, das mulheres que não teve, dos porres que não tomou. Lembrou-se que esqueceu de viver.

Mas agora, observando tudo de tão alto, viu que tudo se tornara pequeno. Ele, que sempre se achou um escravo do destino, viu que poderia realmente fazer algo que acabaria com todo seu sofrimento. Pela primeira vez em toda sua vida sentiu-se segurando firme as rédeas de sua existência. Do alto, tudo é mais bonito. Até mesmo a confusão da cidade lá embaixo, com suas luzes e buzinas, se torna bela. Sentiu uma enorme paz e chegou até mesmo a sorrir. Então, subiu no parapeito do arranha-céu. Agora ele observa sua liberdade somente a um pequeno passo de distância...

Agora já não sofre.